"Ser poeta é trabalhar com a diversidade e a quantidade de fios imperiosos da vida existencial,de pensamentos,manifestações,vivências.Às vezes na ótica espiritual,tecendo da melhor forma uma roupagem de fé e esperança,outras vezes,cosendo o tecido esgarçado da alma.A epistemologia da palavra grega poésis significa criar,produzir,tecer.O poeta é um semi-deus,um co-criador no seu mundo de criações inatingíveis,é uma síntese perfeita entre o sagrado e profano,divino e o humano." Frâncel Marzork
Quem sou eu
- Frâncel Marzork
- Pastor Metodista Wesleyano, Escritor, Professor, Bacharel em Teologia, licenciado em Pedagogia, Especialista em Bioética e Docência do Ensino Superior, Mestre em Teologia e Educação Comunitária
quarta-feira, 7 de abril de 2010
POESIA
MEU SUICÍDIO
Eu peguei o revólver
Eu quis revolvere,
Revolver a atual vida
Revirar, dar a volta
Eu dei um tiro em meu ouvido
Eu ouvi, em alto e bom som
Audição capta para alma
A morte que entra pelos tímpanos
Hoje eu precisava morrer
Morrer para viver melhor
Morrer para nascer de novo
Morrer para recomeçar
Eu apontei para minha cabeça
“Cabeça” que pensa
Tudo começa no pensamento
Apontei para a mente
E olhei para o espelho
E disse para mim mesmo
Você precisa morrer agora
Puxei o gatilho e faleci
Matei-me de uma vez por todas
Desfaleci e caí
Hoje foi o dia da minha morte
Porque precisava morrer
Oh! Doce morte
Morte oportuna
Morte visionária
Morte necessária!
Suicídio! Suicida!
Agora eu faço meu velório
Só eu e meu corpo
Mas não há choro, já ouve
Só aguardo o tempo necessário
O momento é de transição
Ritual imaginário de passagem
Tempo de silêncio e escuro
Olho para este corpo e lamento
Poderia ter sido diferente
Poderia ter sido...
Escolhas, opções, decisões...
E a vida nos empurra para morte
Diz o ditado
Para morrer,
Basta estar vivo
Antes que a morte chegasse
Eu precisei me matar
É a morte que nos tira da morte
Trocadilho espiritual Paulino
Antes que ela me levasse
Eu a ritualizei
Na minha consciência
Eu a fiz acontecer sem inocência
Vivenciei o trágico
Para não assustar,
Com a maneira trágica
De ela chegar
Um tiro no ouvido ou dar ouvidos?
Na cabeça ou na mente?
Atingiu o cérebro ou o pensamento?
Sei que foi urgentemente necessário
Enquanto muitos fogem dela
E tragicamente se encontram
Eu a valorizei e a quis
E fui consciente ao encontro
Quando ela vier fora da mente
Eu estarei bem melhor para recebê-la
Se a morte me pega antes do meu suicídio
Hoje eu estaria morto
Neste meu velório me ponho a pensar
Morte matada, morte morrida
Morte pensada, morte suicída
Não me fingi de morto para viver
Não brinquei com a morte
Simplesmente morri,
Mas sem sentir o cheiro do luto
Sem fechar os olhos para a vida
A morte me oportunizou
O deixar de existir
E o existir derrepentemente
Simplesmente morte bendita
Eutanásia mental
Morte transcendental
Morte de verdade, resiliente
Não morte aparente
Morte como remédio para a vida
Morte para ser vivida
Hoje foi o dia da minha morte
Eu o carrego, defunto, o eu
Deixei de existir
Não sou mais eu
Eu morri
Estou morto e permanecerei
Existe o novo
Que brotou da morte
Novo que anda
Que chora e sorri
Agora mesmo,
Pós-morte, nesta hora
Mente, vida, direção, reação...
O pensar, repirar é o simples fato de viver
Estou vivo
Por isso hoje morto
Estou morto
Por isso hoje vivo
Todos pertecem a vida
Morte e nascimento
Na história
Em construção do momento.
*Frâncel Marzork
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