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Pastor Metodista Wesleyano, Escritor, Professor, Bacharel em Teologia, licenciado em Pedagogia, Especialista em Bioética e Docência do Ensino Superior, Mestre em Teologia e Educação Comunitária

quarta-feira, 7 de abril de 2010

RESILIÊNCIA POÉTICA


RRESILIÊNCIA NA POESIA

"As ruínas são restos, mas não do que acaba e sim do que morre pra recomeçar".
Oswaldo Montenegro


“Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido recanto adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu”.
Francisco Otaviano


“A criança que fui chora na estrada
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que sou é nada
Quero ir buscar quem fui onde ficou”.
Fernando Pessoa


Quando o ser humano é exposto a uma situação conflitante, ele tem toda probabilidade de perdas na saúde psíquica, transtornando-o em seu ciclo vital. Após estes traumas as pessoas necessitam de uma retomada a saúde da psique. Na tentativa de estabilizar-se e voltar-se novamente a ser ela mesma. Segundo o médico e psicanalista Aldo Melillo: “a resiliencia é a capacidade dos seres humanos de superar os efeitos de uma adversidade à qual estão submetidos e, inclusive, de saírem fortalecidos da situação”. A definição do pastor Luterano Dr. Lothar Carlos Hoch destaca a particularidade interiorana do ser humano como recipiente da necessária resiliência: “resiliência é a capacidade humana de extrair do íntimo do seu ser uma reserva extra de forças para superar dificuldades”.
A poesia é uma complexa experiência terápica, com uma imensa promoção de forças resilientes, o poeta expõe através de seus versos e estrofes, suas fantasias, sua fé, sonhos, vontade de vencer e até mesmo um desabafo, seja ele pessoal, social, político, eclesial, sexual,... . Em meio à reflexão, descrição e o elaborar do texto poético surge dentro do ser uma energia resiliente, que o capacita para superar o sofrimento. A mente desvia a atenção do problema seja ele emocional, sentimental, financeiro, espiritual, etc, e prioriza esta atenção para formas de recuperação. Assim o ser humano estimulado pela produção poética exercitada em suas faculdades mentais ejeta-se do casulo das situações ofuscantes sociais ou pessoais e prossegue ao futuro com um olhar diferenciado, que supera os efeitos nocivos da real adversidade presente. Como se um poder brotasse do interior do ser capacitando-o para transformar traumas, intempéries e o inevitável em perspectivas positivas de possibilidades, sobressaindo fortalecido em meio o problema.
Na verdade realidades traumáticas e também as situações de extremo risco são avassaladores psicológicos, tornando as pessoas vulneráveis a contraírem o fator decadente, frustratório e paralisante.
O ser humano possui a capacidade resiliente dentro de si próprio, pode ser que alguns possuem com mais intensidade e outros com menos, mas possuem. Algumas pessoas já são ativadas ao processo intrínseco resiliente automaticamente quando surge o problema, ou seja, o próprio problema ativa a força resiliente contida no interior do ser. Outras pessoas precisam ser estimuladas, através de uma mensagem motivacional, uma pregação, sermão, um filme, uma música, uma oração, etc. E também a criação da arte em suas variadas formas, principalmente a poesia, que não só vai despertar a resiliencia, mas ela tem a capacidade de desenvolvimento resiliente dentro do ciclo vital. A resiliencia revelada pelo ser mediante o problema não define uma característica pessoal constante, absoluta, como que se algumas pessoas fossem imunes aos traumas produzidos pelas adversidades. Não sabemos como enfrentaremos certas gravidades, adversidades na classificação de estupros psicológicos, traumas. Da mesma forma a resiliencia na humanidade aflora de formas variadas, uns recuperam rapidamente e outros vagarosamente o seu estado. O poder maior do desenvolvimento da resiliencia concentra-se após uma grande superação, amadurecimento, percepção de valores outrora ignorados e visão positiva dos fatos. A poesia trabalha este fator de visualização do mundo, do ambiente, dos relacionamentos, dos enfrentamentos cotidianos. Concedendo uma sensibilidade para reflexão de situações e gerando confissões, desabafos no divã das frases e das estrofes poéticas terapêuticas.
Dentro desta linha de pensamento, visualizamos a resiliencia na poesia apartir de um reconhecimento da formação do texto poético como uma ferramenta possibilitadora de fornecimentos necessários para a essencial busca de recursos próprios da pessoa para sua proteção não só intrinsecamente, mas também na esfera extrínseca vital.
Algo que é necessário nesta temática é o contato relação com outras pessoas, alguém que acredita no potencial existente e valoriza a produção textual poética pelo que ele representa para quem a criou. Na satisfação de expor o “texto poético”, fruto construído do ventre, de sua psicologia de desenvolvimento mediante expectativas e olhares apreciativos, dos familiares ou amigos. Essas pessoas serão promotores da liberdade e responsabilidade na vida do vulnerável. Seria ótima a formação de um grupo de estruturação da terapia poética, no sentido de obter esta interação com outras pessoas. Onde cada um nesta reunião expusesse seu texto literário poético e sentisse amada, cuidada, por Deus e pelas pessoas. Surtindo o efeito auto-estima pelo reconhecimento de sua obra poética.
São características, como o senso de humor, realismo otimista, que perfazem as bases importantes produzidos na resiliência, um simples sorriso para aquilo que não cabe as nossas forças e não está ao nosso alcance, rir da imperfeição e não chorar desesperadamente, logicamente dentro da normalidade da sensibilidade e consciência humana. Ninguém vai dar ataque de risos diante uma trágica notícia de um falecimento de alguém importante que se ama.
Segundo Vanistendael: “talvez a resiliencia seja a prefiguração mais natural da dinâmica da cruz e da ressurreição”. Como relata o Apóstolo Paulo em sua 2ª epístola aos Coríntios 4.7-11: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados, perplexos, porém não desanimados, perseguidos, porém não desamparados, abatidos, porém não destruídos, levando sempre no corpo o morrer em de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues á morte por causa de Jesus, para sempre também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal”.
O exercício poético, bem como o pedido de oração, a carta para Deus expondo as realidades enfrentadas e pedindo a intervenção Divina, contribui gerando resiliencia, superação dos problemas individuais, comunitários, com isso podendo ativamente ser aplicado no âmbito pessoal, social, laboral e pastoral. A poesia é uma despertadora de recursos estagnados no próprio interior do ser humano para prosseguir na sua caminhada, mesmo em meio perseguições, afrontas, adversidades da vida.
A escrita de orações, pedidos de interseções, salmos, nos torna mais espirituais, aguça a fé, pois ajudam na transcendência enxergando-se além das adversidades enfrentadas. A terapia poética desenvolve um complexo processo Resiliênte, gerador de resistência, persistência e sobrevivência frente crises. Destacando-se dentro deste processo a capacidade de amar, perdoar, atuar, ter expectativa de vida, dando sentido a sua existência.
* Frâncel Marzork

POESIA


MEU SUICÍDIO

Eu peguei o revólver
Eu quis revolvere,
Revolver a atual vida
Revirar, dar a volta


Eu dei um tiro em meu ouvido
Eu ouvi, em alto e bom som
Audição capta para alma
A morte que entra pelos tímpanos


Hoje eu precisava morrer
Morrer para viver melhor
Morrer para nascer de novo
Morrer para recomeçar


Eu apontei para minha cabeça
“Cabeça” que pensa
Tudo começa no pensamento
Apontei para a mente


E olhei para o espelho
E disse para mim mesmo
Você precisa morrer agora
Puxei o gatilho e faleci


Matei-me de uma vez por todas
Desfaleci e caí
Hoje foi o dia da minha morte
Porque precisava morrer


Oh! Doce morte
Morte oportuna
Morte visionária
Morte necessária!


Suicídio! Suicida!
Agora eu faço meu velório
Só eu e meu corpo
Mas não há choro, já ouve


Só aguardo o tempo necessário
O momento é de transição
Ritual imaginário de passagem
Tempo de silêncio e escuro


Olho para este corpo e lamento
Poderia ter sido diferente
Poderia ter sido...
Escolhas, opções, decisões...


E a vida nos empurra para morte
Diz o ditado
Para morrer,
Basta estar vivo


Antes que a morte chegasse
Eu precisei me matar
É a morte que nos tira da morte
Trocadilho espiritual Paulino


Antes que ela me levasse
Eu a ritualizei
Na minha consciência
Eu a fiz acontecer sem inocência


Vivenciei o trágico
Para não assustar,
Com a maneira trágica
De ela chegar


Um tiro no ouvido ou dar ouvidos?
Na cabeça ou na mente?
Atingiu o cérebro ou o pensamento?
Sei que foi urgentemente necessário


Enquanto muitos fogem dela
E tragicamente se encontram
Eu a valorizei e a quis
E fui consciente ao encontro


Quando ela vier fora da mente
Eu estarei bem melhor para recebê-la
Se a morte me pega antes do meu suicídio
Hoje eu estaria morto


Neste meu velório me ponho a pensar
Morte matada, morte morrida
Morte pensada, morte suicída
Não me fingi de morto para viver


Não brinquei com a morte
Simplesmente morri,
Mas sem sentir o cheiro do luto
Sem fechar os olhos para a vida


A morte me oportunizou
O deixar de existir
E o existir derrepentemente
Simplesmente morte bendita


Eutanásia mental
Morte transcendental
Morte de verdade, resiliente
Não morte aparente


Morte como remédio para a vida
Morte para ser vivida
Hoje foi o dia da minha morte
Eu o carrego, defunto, o eu


Deixei de existir
Não sou mais eu
Eu morri
Estou morto e permanecerei


Existe o novo
Que brotou da morte
Novo que anda
Que chora e sorri


Agora mesmo,
Pós-morte, nesta hora
Mente, vida, direção, reação...
O pensar, repirar é o simples fato de viver


Estou vivo
Por isso hoje morto
Estou morto
Por isso hoje vivo

Todos pertecem a vida
Morte e nascimento
Na história 
Em construção do momento.

*Frâncel Marzork